Nos últimos anos, o Brasil se tornou um tradicional cenário de grandes eventos, como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, eventos religiosos, como a Jornada Mundial da Juventude, além de shows, festivais de música, dança, gastronomia, entre outros. E, apesar de cada vez mais numerosos, o mercado de seguros nacional ainda enfrenta um desafio: disseminar a cultura de proteção e prevenção de riscos, especialmente em relação ao segmento de eventos.
Mesmo que algumas tragédias tenham acendido um alerta momentâneo sobre a necessidade de se implementar políticas de prevenção, como foi o caso do incêndio da Boate Kiss, que ocorreu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013, muitas empresas, fornecedores, expositores e outros responsáveis do segmento de eventos, ainda não priorizam a contratação de um seguro. No País, o seguro de eventos ainda é pouco difundido. E, apesar do mercado segurador brasileiro estar em plena ascensão, ele representa apenas 5% do PIB nacional, enquanto nos Estados Unidos esse número chega a 14%, e em países da Europa e Japão em cerca de 12%. Mesmo quando contratadas, apólices para eventos brasileiros, em média, somam R$ 1 milhão em importância segurada com cobertura para danos a terceiros. Nos Estados Unidos e países europeus esse valor pode chegar, em média, a R$ 4 milhões. Os números comprovam que ainda há um longo caminho a ser trilhado em direção ao fortalecimento da cultura de prevenção de riscos. O desenvolvimento desse mercado depende, além do esforço do poder público para implementar políticas de apoio ao setor, da disseminação de informações, gerando maior educação aos profissionais, e do maior investimento na área de treinamento e coaching executivo para formação de uma nova mentalidade: prevenir e estar pronto para remediar. No mercado segurador, discute-se sobre a possibilidade de tornar o seguro de eventos obrigatório, o que poderia, finalmente, levar mais segurança à sociedade. Algumas experiências servem de exemplo. Na área de transporte de cargas, a cobertura de responsabilidade civil – danos a carga – tornou-se obrigatória, levando, mais segurança às estradas, que são as principais vias de transporte das mercadorias. Outro exemplo, algumas leis estaduais tornam obrigatória a contratação do seguro de acidentes pessoais em eventos com cobrança de ingressos em alguns estados. No entanto, há um problema cultural: a falta de fiscalização, o que resulta em poucas empresas cumprindo, de fato, a lei. As vistorias, que também são ferramentas para prevenir incidentes, ainda são vistas como secundárias pelo próprio setor de seguros. Na prática, poucos eventos e locais são visitados pelas seguradoras antes do fechamento da apólice e ocorrem apenas em eventos de grande porte e quando solicitadas pelos próprios segurados. O atual panorama reforça como esse cenário é preocupante não só para o mercado de seguros brasileiro, mas, principalmente, para a sociedade. Esta, por falta de informações, não exige que todas as medidas para a prevenção de acidentes em shows, boates, festivais, e outros eventos de lazer, sejam tomadas. Algumas tragédias ficaram marcadas na memória nacional, mas as lições que elas trouxeram não foram aprendidas. Esta é uma história com muitos protagonistas: fornecedores, seguradoras, expositores, produtoras, locais diversos, hotéis, resorts, empresas em geral e a sociedade. Resta saber quem vai pagar a conta, que está cada vez mais cara, da negligência que tem se alastrado no País. *Rodrigo de M. Cesar é CEO da corretora Mentor Seguros, especializada em seguros de eventos e vencedora dos prêmios Top Empreendedor e Corretora Premium Best 2012. Formado em Propaganda e Marketing pela Universidade Estácio de Sá, é corretor de seguros formado na Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg), site: www.mentorseguros.com.br / blog: www.segurodeeventos.com . |